terça-feira, 8 de agosto de 2006

Ato I – Falar


Vontade de falar. Coisas que me vêm à cabeça. Coisas sem razão. Falar o que não se pode falar. Falar pelo “mero” ato de falar. Falar o que insisto em calar. Vontade de falar das rosas. Poesias vermelhas expostas em carne viva, fogo, ferro, brasão. Falar do que se duvida. E do que se tem certeza. Falar, falar, falar. E até falar em vão. Mas falar, mesmo calada. Falar, mesmo cansada. Falar banalidades. Falar palavrão. Falar da palavra. Metalinguagem criativa. Sílabas corrosivas. Falar absurdos para insultar os ouvidos alheios. E falar de amor e amar. Somente falar, porque amar está muito difícil, e o amor, muito caro. Falar de meninas, meninos, tesão. Falar de sexo. De fome. De delírio. Desfalar. E falar de novo. E mais. E sempre. E não parar nunca. Falar por falar. Sem querer mudar o mundo com palavras repetidas, jogadas ao vento. Falar da poesia que há na rede estendida na sala. Falar da preguiça de manhã, dos calafrios banais, das culpas cotidianas. Falar só para falar. Falar sem medo de repressão. Falar exatamente o que se pensa: supetão! Vontade de falar. Falar para que me entendas. Falar para que me prendas por atentado ao pudor. Falar para que se surpreendas com a minha voz e, só assim, decida ficar. Ficar e falar sobre nós. Palavras faladas, recitadas a sós...


 
;