quarta-feira, 27 de junho de 2012




ele me veio assim, meio de mansinho...
mas me pegou de jeito.
me tocou delicada e intensamente.
sabia exatamente o que fazer com as batidas do meu coração...
com os arrepios que me percorriam a espinha...
e com as borboletas que eu carregava no estômago...




hoje eu sou silêncio que reverbera,
ecoando uma canção triste e sincera.
hoje a noite será minha
e todo o céu se curvará
numa reverência tímida ao meu lamento.
hoje eu terei a vaga sensação da ausência
e meu coração se aquietará num ritmo lento e inaceitável.

impossível esse corpo ter paz.





Pensei o quanto desconfortável é ser trancado do lado de fora;
e pensei o quanto é pior, talvez, ser trancado no lado de dentro.

.Virgínia Woolf
















eu me renuncio poesia



do que cabe



de ser



me sinto reticência onde deveria ser um ponto final.

minha música cotidiana



o som que eu escuto...

chuva que cai



eu não tenho medo da chuva...
eu tenho medo é de não sentir os pingos caindo
sobre meu corpo cansado...

riscos que corremos...



fica mais fácil voar assim... mas o risco ainda é grande...

voo rasteiro



e num voo rasteiro, perfeito... eu quase toco o infinito...

asas imaginárias



se eu tivesse asas... sinto que poderia tocar o infinito...

de amor e outros cuidados.



amor a gente pega e cuida.

de voar...


porque é preciso voar, de vez em quando...

quem levamos no coração...


porque você é meu amigo de todas as horas...
porque me compreende quando nem eu...
porque me atura e me ama.

quinta-feira, 8 de setembro de 2011

era assim













então era assim:
ela só tinha que ser feliz
mas acontece que já era tarde

esquina com o amor















.
e quando a noite chegou, ele a abraçou forte
era o primeiro do resto dos dias de ambos
e como fosse impossível prever
não durou mais que um breve piscar de olhos
na esquina do imprevisível com o inaceitável despediram-se
e... nunca mais amor
.


milena bandeira

já era tarde...


















‎.
não era tarde.
era noite,
mas nem era tarde.
era o começo,
e como todo começo,
era bom.

não era dia.
era noite,
mas tarde da noite.
era o desenrolar dos fios
novelos emaranhados
era lindo.

não era noite.
era frio,
mas o peito ardia.
era a despedida
do que mal começara
era fim.
.


milena bandeira

segunda-feira, 5 de setembro de 2011

olhos insones
















.
os olhos insones revelam o que eu não desejara
mais que palavras, rendo-me aos pedaços
nessa revelação insólita, indesejável, infantil

eu estava bem ali, assistindo minha queda
e foi real
e pareceu um sonho
e em ambos, você estava lá...

das noites em que morpheu não me visita
restam-me as olheiras, o vermelho da retina
lágrimas que embaçam o sol
e um gosto amargo de vida perdendo o sentido...
.

milena bandeira

a roupa que não cabe mais...















.
o que fazer com a roupa que não cabe
o sapato apertado
o espelho embaçado
a angústia abafada?

o que fazer com os sonhos esquecidos
mil tesouros enterrados
e todos os planos adormecidos?

por que cada hora se precipita num assomo
e o tempo parece parar por um segundo,
exatamente aquele segundo em que me perco
inteira dentro de mim
estilhaçada demais para nós?

por que, no peito - totalmente enfurecido -
o velho coração insiste em bater?
.

milena bandeira

desgaste






















.
eu me desgasto em detalhes
procurando as chaves certas da porta errada
por onde jamais entrarei

eu me distraio em becos
tentando achar o que perdi
quando ainda entre os dedos o objeto desejado grita

eu me arrebento em fúrias insanas
entre paredes que nunca pintei
e me descubro frágil

eu me antecipo lúcida
além dos labirintos vencidos
e tudo parece um risco.

eu caio.
mas já se foram as mãos e as certezas.
.

milena bandeira

amores pretéritos















.
há amores que, mesmo pretéritos,
ainda iluminam a sala
esbarram em cortinas antigas
alteram a direção dos ventos
e se fazem presentes.
.

milena bandeira

tinta frágil














.
eu me distraí em sonhos que não me pertenciam
eram ilusões escritas em papel, tinta frágil,
delicados dedos as cometeram...
e em pânico, ainda absorvida neste
estranho mundo que criou para nós,
eu não vi teus passos na calçada,
o ronco suave do motor arrancando...
não partindo apenas da garagem,
indo...
levando consigo o que havia de melhor em mim:
você.
.

milena bandeira

tantos sonhos






















.
tenho tantos sonhos dentro de mim
tanta coisa que lateja
e ameaça sair
e que pode ser para o bem
ou para o mal

eu tenho dentro de mim asas
ser alado dividido entre dois mundos
um pede para ficar
o outro para partir

eu tenho o mundo dentro de mim
mas não cabe mais no peito
.

milena bandeira

sábado, 3 de setembro de 2011

dentro do furacão




Talvez eu até estrague tudo mesmo. E talvez, também, você tenha tentado de todas as maneiras... Quem sabe é pra ser assim: eu não ter jeito de virar gente. E você sempre insistindo em algo sem conserto: defeito de fabricação. Você sempre espera a pessoa calma, tranquila, eternamente simpática, que fale pouco e baixo, a compreensiva, a pessoa que não pode ter rompantes de raiva ou fúria.

         Desculpe não ser quem você sonhou. Tantos defeitos e falhas irreparáveis... É difícil pensar dessa maneira, mas talvez não seja pra ser. Ou já tenha sido. Talvez tudo de bom, ou de possibilidades futuras, tenham ficado no passado, quando você desistiu de nós. Quando tudo parecia infinitamente perdido e incerto. Olhe pra hoje: agora sim, tudo parece perdido e incerto... e ainda estamos aqui. Não somos os mesmos, não temos os mesmos defeitos, não amamos direito. Porque eu acho, de verdade, que deve haver um jeito certo de amar. Os sentimentos devem ser preservados. Nós não os preservamos. Nós não nos preservamos. E tudo porque ainda temos medo de sermos preenchidos por esse vazio que vez em quando nos assola... não era pra gente ter medo do vazio, ou da chuva forte, ou das tempestades devastadoras... era pra gente ter medo era de não amar mais. De não se amar mais... a vida toda perdendo o sentido e nós aqui, de mãos atadas... pela nossa ignorância, falta de vontade, e talvez, até, por amar de menos.

O seminário

















            Ela acabara de assistir ao seminário sobre sua autora preferida. A alma transbordava de euforia, êxtase. Essa já mencionada felicidade clandestina. Dirigiu-se à renomada biógrafa com a intenção de um autógrafo. Eis que o conseguiu. Entrou no elevador e todos os seus pensamentos se elevavam. O silêncio reverberava dentro dela, fazendo tilintar suas ânsias secretas, seus sonhos obscuros. Ela voava.
Abraçada ao livro, caminhou em direção à saída. Lá fora, na calçada, o vento forte a apanhou de assomo. E num átimo de segundo, desses instantes inusitados e efêmeros que seguramos pela mão, ela se encheu de tristeza. Ela não sabia explicar. Ela apenas sentia.
Sentou-se calmamente no banco da praça. O vento ainda soprava forte. E frio. No céu, as primeiras estrelas apareciam. Anoitecia. E dentro dela já era noite. Ela se sentia incomodada. Não era o vento, não era a noite, não era a praça. Certos descontentamentos lhe inebriavam os sentidos. Ela experimentou um frio lhe percorrendo o corpo: a espinha, os joelhos, a boca do estômago.
Decidiu telefonar para ele. Ela pensava em cinema, refrigerante, amor. Essas pequenas cotidianices lhe prometiam felicidade efêmera. Ela lhe chamou para compartilhar isto. Ele recusou. Melhor seria manter a distância entre eles. Ele a julgava nociva. Entregar-lhe a alma, mostrar-lhe bons sentimentos o tornaria vulnerável, a ela e ao velho relacionamento, já tão maltratado.
Ela saiu da praça meio perdida, tentando assimilar as duras palavras dele. O som de buzinas se misturava com o colorido dos faróis e semáforos. O vento balançava as folhas novas das árvores centenárias. E os pingos de chuva recém caídos do céu se misturavam com suas lágrimas, brotadas de uma face já abatida.
Segurando o caderno contra o peito, não ouvia mais os sons angustiantes da cidade. Não havia velocidade. E tudo se perdia entre esquinas, ônibus e bancas de revistas. Seus passos se apressaram nas calçadas; era necessário chegar logo. Não se sabia onde, mas era imprescindível que fosse logo.
Distraída entre becos e soluços, não ouviu o som familiar, não viu a aflição no rosto dos transeuntes ao atravessar a rua. Dentro dela, apenas um silêncio paralisante. Ela finalmente estava livre.

sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

de ser reticência.


.
dentro de mim, abismos de palavras. uma milena nunca fica sem ter o que dizer. até peca pelo excesso, nunca pela falta. aqui estou eu, tão danificada - material defeituoso - não consigo me entregar às palavras ou deixá-las me invadir. tenho medo. elas, quando proferidas, goodbye, blue sky! não se volta ao ponto de partida. medida. intermédio entre pensar e falar. às vezes, seria melhor mesmo não tê-las, ficando assim um manifesto silenciado, buraco no meio do peito... algumas palavras jamais deveriam ter sido inventadas!
.

domingo, 12 de dezembro de 2010

O mito dos 27 anos




Editado recentemente, o livro "The 27s: The Greatest Myth of Rock And Roll", escrito por Eric Segalstada e Josh Hunter, relata todos os grandes nomes do rock e do blues que morreram aos 27 anos de idade. O livro também deixa no ar a pergunta, "por que aos 27 anos?". Coloco aqui alguns nomes dessa lista sinistra.

BRIAN JONES - guitarrista dos Rolling Stones até 1969, o músico era tão talentoso que se dessem um tijolo na mão dele, o cara conseguia tirar um som. O mais bonitinho dos Stones morreu afogado na piscina de sua casa em julho de 1969.

ALAN WILSON - vocalista da banda de blues californiana Canned Heat, foi encontrado morto, vítima de uma overdose de heroína. O músico sofria de depressão e sua morte foi considerada como suicídio, em setembro de 1970.

JIM MORRISON - O vocalista dos Doors foi encontrado morto na banheira de seu apartamento, em Paris, por sua companheira Pamela Courson, no dia 3 de julho de 1971. Os rumores eram de uma overdose acidental.

JIMI HENDRIX - o maior guitarrista de todos os tempos morreu após ingerir nove comprimidos para dormir, asfixiado pelo vômito, durante o sono, em setembro de 1970. Curiosamente ele trabalhava numa nova letra chamada "The Story Of Life Is Quicker Than The Wink Of An Eye" (A história da vida é tão rápida quanto uma piscada de olho).

JANIS JOPLIN - A maravilhosa voz do blues morreu de uma overdose de heroína, possivelmente combinada com os efeitos do álcool, em Outubro de 1970. Dias antes de sua morte, ela gravou uma fita desejando feliz aniversário ao Beatle John Lennon. O tape chegou à casa de John no dia seguinte da morte da cantora.

KURT COBAIN - Ícone na geração grunge, o líder do Nirvana foi encontrado morto em sua casa, em Seattle, por um eletricista, em abril de 1994.

RON MCKERMAN - também conhecido como PigPen, o músico foi um dos fundadores do Grateful Dead, a mais cultuada das bandas californianas desde a década de 60. Alcoólatra assumido, Pigpen morreu de uma hemorragia gastrointestinal em 1973.

PETE HAM - guitarrista e vocalista da banda Badfinger, grupo britânico do país de Gales, que apareceram no final da década de 60, apadrinhados pelos Beatles. Devido a problemas pessoais e financeiros, o músico se enforcou na garagem de sua casa em abril de 1975.

CHRIS BELL - ao lado do músico Alex Chilton, ele liderou o Big Star, uma cultuada banda norte-americana, do início dos anos setenta. Sua morte veio em consequência de uma depressão por sua homossexualidade reprimida e também pelo uso de heroína. Em 27 de dezembro de 1978, seu carro colidiu contra um poste de iluminação e Chris Bell morreu instantaneamente.

D BOON - vocalista norte-americano e guitarrista do trio punk californiano Minutemen. Sua morte trágica aconteceu em 1985, quando foi acidentalmente jogado para fora da Van em que viajava pelo deserto do Arizona (EUA).

PETE DE FREITAS - baterista do Echo & The Bunnymen, banda da cidade de Liverpool, liderada pelo vocalista Ian McCulloch que teve seu auge na década de 80 . Antes de morrer, Pete tinha entrado com um processo contra o vocalista do Echo & The Bunnymen pedindo uma restituição de 15 mil libras pelas pontas de cigarro que Ian McCulloch atirou nele durante todos os anos que ele esteve na banda. O baterista morreu em 1989 em um acidente de moto viajando de Londres para Liverpool.

ROBERT JOHNSON - o enigmático e histórico bluesman, famoso pelo fato de ter vendido sua alma ao demônio numa encruzilhada, morreu em agosto de 1938. A causa de sua morte foi envenenamento, possivelmente pela mulher com a qual ele convivia.

A lista ainda continua com outros nomes menos famosos, porém, todos com uma história dentro da música pop, mas esse é um daqueles assuntos para se "pensar em casa". Qual é a razão dessa coincidência? Todos aos 27 anos de idade. Será que igual a Robert Johnson, todos não teriam feito algum pacto com o demônio? Cruz credo! Vá de retro, Satanás!

poema do amigo aprendiz



quero ser teu amigo
nem demais nem de menos.
nem tão longe nem tão perto.
na medida mais precisa que eu puder.

mas amar-te, sem medidas,
e ficar na tua vida
da maneira mais discreta que eu souber.

sem tirar-te a liberdade
sem jamais te sufocar.
sem forçar tua vontade.
sem falar quando for hora de calar,
e sem calar, quando for hora de falar.

nem ausente nem presente por demais,
simplesmente,calmamente, ser-te paz.

é bonito ser amigo
mas, confesso,
é tão difícil aprender!
e por isso
te suplico paciência.

vou encher este teu rosto
de lembranças!
dá-me tempo
de acertar nossas distâncias!

(Ricardo Kondrat)

 
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